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Os que se salvam e os que sucumbem

As condições dentro do campo de Auschwitz eram completamente horríveis e desumanas. Ali só restavam almas quase vazias, onde a esperança se apagava à medida que os dias passavam. Estes passavam lentamente, restavam a humilhação, a ausência de paz e a luta pela sobrevivência. “A persuasão de que a vida tem uma finalidade está enraizada em todas as fibras do homem, é uma propriedade da substância humana” e muitos destes homens já não viam um futuro nem uma finalidade na sua vida.

 

Em relação a estas condições e a esta nova definição de quotidiano todos tinham reações e visões diferentes.

Existiam os que continuavam a lutar diariamente pela sobrevivência com esperança; os que desistiam eventualmente, os sensatos e os insensatos e os que lutavam pela sobrevivência, mas em que essa esperança já não existia.

 

Primo Levi, por exemplo, enfrentou muitas dificuldades, mas conseguiu sobreviver, pois no fundo ainda tinha fé.

 

Todos os momentos de humanidade eram notáveis, pois este era um sinal de que afinal nem todos se tinham esquecido que as boas ações ainda existiam, apesar de no campo ensinarem que não existiam nem ações moralmente corretas nem moralmente incorretas.

 

Os que sucumbem:

 

Sucumbir era o mais fácil.

Os que sucumbem são os homens cuja dignidade não resistiu, que de derrota em derrota foram levados à ruína.

Que estavam desesperados e sós e não aguentaram essa solidão.

São os que simplesmente desistem de viver ou que sucumbem devido a outros fatores, como a fome, o azar, o corpo já em fase de aniquilação, etc...

“... já demasiado vazios para sofrer de verdade.”

 

 

Os que se salvam:

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São os que lutam pela sobrevivência, que se arrastam para o trabalho todos os dias, os fortes ou os que são astutos e cumprem todas as regras, chegando a “fazer quase camaradagem”, pois ganhavam benefícios.

A seleção natural era um processo feroz e intimidante, aqui só sobreviviam os médicos, os alfaiates, os sapateiros, os músicos, os cozinheiros, os jovens homossexuais atraentes, os amigos das autoridades e até os que embora não realizassem nenhuma função particular, pela sua inteligência, energia e êxito obtinham vantagens, como a indulgência e estima por parte dos mais poderosos.

Persistiam e trabalhavam com afinco.

Sobrevivem à destruição exterior e a aniquilação interior.

 

Para escapar à aniquilação, havia três métodos que os homens podiam aplicar para sobreviver: a organização, a piedade e o roubo.

 

 

A verdade é que alguns homens sobreviveram e Primo Levi foi um deles, mas a luta deles não acabou quando se viram livres do campo de concentração, Levi tinha bastantes obstáculos até chegar a casa, não sabia se a sua família ainda estava viva ou se a sua casa ainda existia. Muitos dos restantes sobreviventes também se devem ter deparado com os mesmos problemas.

Viver com estas memórias é também muito difícil.

Levi morreu em 11 de abril de 1987, especula-se, até hoje que se tenha suicidado.

Muitos dos sobreviventes sentem culpa por terem subsistido enquanto outros, infelizmente, não conseguiram.

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